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... e foi ruim. Como foi...
Pode soar infantil, inocente, naive, uma criança descobrindo a morte. Mas o que mais doeu foi a pergunta que o espelho do elevador me fez: por quê? Quem é você que tem a força de dar e tirar a vida? O que ela te fez?
E é verdade, quem sou eu, quem nem dono da minha vida sou? Não sou eu quem a dei, nem eu que vou decidir meu fim, me cabe apenas a certeza que ela chegará ao fim? Por isso, decidi fazer de minha vida uma obra de arte, e assim será pelos próximos dias que vierem: eu sou dono de minha vida, e sou eu quem decido quando ela termina, e eu decido que é amanhã. Mas amanhã acordarei e direi que já que sou dono de minha vida, escolho que me darei mais esse dia, e esse dia será feito conforme eu bem quiser. Vou edificar pouco a pouco a minha vida, e quando eu bem quiser, ela chegará ao fim, depois de quantos prazos eu quiser. E minha obra de arte será construida.
Cheguei ao fundo do poço. Não me é cabível, nem palpável essa decisão. É cruel, é seco, mas ao mesmo tempo, é linda essa efemeridade da vida. Essa condição humana, que desperta os mais diversos medos e sentimentos, e nos faz cada dia mais apegados ao nosso drama existencial. E foi essa minha impossibilidade de decidir meu fim, que me motivou a matar, trucidar, esmagar, multipolarizar, desfragmentar aquela pobre mosca que no espelho do elevador me olhada imóvel. Decidi o fim da vida dela, visto que a minha, só o tempo vai tirar.
Sou dono da vida dela. E isso não me faz mais feliz.
André Romitelli
2 comentários:
que bonito esse texto, bem forte. gostei
taí, o Aquiles cinematográfico dizia que os deuses tem inveja de não sermos imortais. A morte que nos dá humanidade.
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