domingo, 17 de janeiro de 2010

Teoria do riso


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Não tem experiência mais inglória do que explicar piada. Nada tão incômodo que aquela sensação de piada frustrada em mesa de bar. O ouvinte fica com cara de tacho, e o humorista tenta explicar a comicidade do negócio. No universo da piada, não adianta entrar pra fazer cócegas no oponente: tem que ser um golpe certeiro, sem espaço pra esquiva, que deixe o abdome dolorido de tanto rir. O espectador protege a guarda, recluso, de cara fechada, procurando evitar os clichês tão comuns, mas é incoerente quando vem um golpe baixo, e a risada, há muito contida, explode no ar com a imprecisão necessária, e contagia a multidão. É às vezes até incômodo.Mais incômodo do que isso, é estar na mesma mesa, não achando graça alguma, e tendo que partir pr'aquela risadinha de canto de boca, bem mal esboçada, emborcando o copo de cerveja, esvaziado em um sorvo só.
Muitos dizem que humor é uma habilidade inata, abrindo alas para um universo científico, e permitindo assim, o aprendizado da comicidade. Aprender a fazer os outros rirem torna-se um exercício, que se praticado diariamente, como os socos deferidos por Rocky Balboa em sacos de areia, pode, sim, tornar-nos mais engraçados! É uma prática de auto conhecimento, e um descanço para as emoções, convertidas em um só momento em sintonia com um só sentimento, expressos em um sorriso.
Muitos dizem, que o riso, é um santo remédio. Pois os médicos por aí que prescrevem tal medicamento, não imaginam o quanto estão corretos: quando você se deixa levar por um gracejo ou uma piada, a hipófise estimula a produção de endorfina, hormônio que relaxa a musculatura. Torna-se, dessa forma, um processo que se retroalimenta, já que o ambiente acaba tornando-se muito mais descontraído, propício para novas risadas.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Com fiança

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Confiança. Principal ingrediente na mistura dos relacionamentos humanos. A fundação necessária para edificar qualquer experiência. A primeira pedra para enfrentar a vida. "O que nos impede de nos atirarmos com confiança e alegria para as experiências do mundo? Por que temos tanto medo de nos entregarmos num relacionamento? E, mais que tudo, será que dá para mudar esse nosso eterno pé atrás com a vida?"

Aquela criança que sonhava em voar, um dia amarrou aos bracinhos galhos, folhas e fitas em um arranjo de asas, subiu no galho mais alto daquele velho carvalho no quintal de casa, encheu o peito de ar, e sentiu-se pronto para desafiar os gritos do irmão mais novo, os berros do pai e o choro da mãe, mas acima de tudo, a própria gravidade. O primeiro passo em falso para atingir aquela aquarela do poente, e por um instante acreditar que tudo aquilo era possível, e, como os passarinhos que ilustravam seus livros de desenhos, ele voaria para o Norte quando o inverno chegasse; batendo suas asas, voando não perto do mar, evitando ser engolfado pelas ondas, mas nem perto do Sol, para que a cêra de suas asas de Ícaro não derretessem. Com um saldo de dois braços quebrados e um dente a menos no sorriso, a criança nem viu o chão chegar perto, cada vez mais perto; encontrou apenas a dor, mas o sucesso daquela experiência era garantido. Nada daquilo poderia ser se não fosse a confiança dele, nele mesmo. O sucesso e o fracasso de sua experiência, delineado por um fio tão sublimado quanto a fronteira entre o azul do céu e o do oceano.

Aquela criança, que alguns anos antes aprendia a andar, passo ante passo, o esboço de uma corrida de braços abertos, para depois se jogar nos braços dos pais. Aquele bebê em aprendizado confia sua vida, sua segurança aos pais. Jogar-se de braços abertos, correr o risco de se esborrachar, confiar em alguém; são coisas que desde os primeiros passinhos, estamos tentados a fazer. A própria palavra, confiança, tem sua etimologia misteriosa, do latim con fides, isto é, com fé. E é esse o exercício que nos confere mais coragem, que do próprio nome sugere ter o coração na ação. Tal coração que por estar amargurado, pode manter nossa confiança escondida do mundo, em uma retroação, se comparada àquela criança em aprendizado que todos nós fomos.

Na falta do coração cometemos crimes -hediondos muitas vezes- contra nós mesmos. Praticado com extrema violência e com requintes de crueldade e sem nenhum senso de compaixão ou misericórdia por parte de seus autores, nós mesmos, tolhimo-nos de confiança e mantemos os braços atados para viver no marasmo da reclusão. Em troca de uma frágil estabilidade, adquirida por um compromisso que, muitas vezes, pode nos manter presos, atados, algemados no mesmo lugar.

Eu não sei qual crime eu cometi. Mas eu pago a fiança.


sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O que restou...



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No dia 12 de Janeiro de 2010, um país historicamente em colapso foi completamente arruinado. O Haiti, cuja história é marcada por uma completa rejeição da comunidade internacional, teve sua capital, Porto Príncipe, destruída por um terremoto que atingiu 7.3 graus na escala Richter.

Edifícios como o Palácio Nacional, ministérios e embaixadas vieram abaixo junto com moradias, hospitais e escolas. Os jovens sobreviventes procuravam seus colegas entre os escombros dos colégios; a população correndo pelas ruas repletas de partes dos prédios e casas - de pessoas também; famílias procuram seus entes nas fileiras de mortos e feridos expostos nas calçadas. Sem ter para onde correr, para quem pedir ajuda, os haitianos vagam pelas ruas em busca de algo que já não tem há muito tempo: uma saída. O país foi negligenciado pela comunidade internacional durante toda sua história, que se resume à opressão e abusos impostos pelo colonizador, a França; trocas de poderes, e ditadores sanguinários como Papa Doc baseada no terror policial dos tontons macoutes (bichos-papões) - sua guarda pessoal -; após sua morte, Baby Doc, seu filho, decretou estado de sítio diante de mobilizações sociais, deixando o país rumo à França. Durante tal período os ditadores eram escorados pelo apoio francês, restando apenas uma nação aos trapos, regida por guerrilhas, em um completo caos, negligenciado por órgãos sociais durante muito tempo, e recebendo ajuda da ONU apenas no sentido de conter a ameaça para paz mundial. Ao longo da história de tal nação são raros os casos de ajuda humanitária, sendo a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, a única no sentido de manter a paz na região.

Agora com o abalo sísmico de proporções catastróficas expôs ao resto do mundo aquilo que há muito foi esquecido: uma nação abandonada, a mais pobre do seu continente, cuja renda per capta corresponde a um terço da renda da favela da Rocinha no Rio de janeiro, e abriga 10 milhões de habitantes, parte de um povo explorado e abandonado por todos nós.

Diante da situação emergencial, me inscrevi para o voluntariado internacional por várias instituições, mas fui recusado, já que não tenho habilidade nenhuma com esse tipo de trabalho. Entendi imediatamente que alguém sem experiência traria apenas mais desordem à situação, portanto, a melhor forma de ajudá-los é com um depósito nas contas da ONG Viva Rio, do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, da Embaixada da República do Haiti e da CNBB. As doações para a Organização das Nações Unidas (ONU) devem ser feitas para a ONG Viva Rio.


ONG Viva Rio:

Banco do Brasil

Agência 1769-8

Conta 5113-6



Cruz Vermelha

Banco HSBC

Agência 1276

Conta 14526 - 84

Aos interessados em fazer depósito online,

o CNPJ do Comitê Internacional da Cruz Vermelha é

04.359688/0001-51.



Embaixada da República do Haiti

Banco do Brasil

Agência 1606-3

Conta 91000-7

CNPJ 04170237/0001-71



Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Os depósitos podem ser feitos nas contas da campanha SOS Haiti:

Banco Bradesco

Agência 0606

Conta Corrente 70.000-2


Banco Caixa Econômica Federal

Operação (OP): 003

Agência 1041

Conta Corrente 1132-1


Banco do Brasil

Agência 3475-4

Conta Corrente: 23.969-0



Não vamos cometer o mesmo erro que viemos cometendo. Faça uma doação, e divulgue esse post para quem puder. Precisando de qualquer informação extra, me mande um e-mail em : andre.romitelli@yahoo.co.uk . Muito obrigado

O olho direito


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Sempre cresci ouvindo que homem não chora, e quem me disser que nunca ouviu coisa do tipo, será um mentiroso de primeira. Afinal, que garoto não teve aquele tio machão, responsável por contar todas as anedotas sobre gays, políticos, mulheres, portugueses; passar latinhas de cerveja escondidas para os sobrinhos e que parece ter uma opinião pronta pra qualquer assunto? Parece que é um jeito de garantir a manutenção do ciclo reprodutivo, garantindo que as gerações mais novas tenham culhões suficientes para enfrentar um mundo repleto de pessoas que, como seu tio, tiveram bagos maiores que o seu. Não vou negar que essa pressão exista em todos os segmentos de minha família, mas sempre foi um tabu, que não se discutia diretamente, mas todos sabiam que estava ali, e eu tive que acreditar que homem não chora mesmo, e pronto!
Talvez seja por isso que eu aprendi aquele jeito de chorar escondido, devagarinho; um choro de mansinho que não assusta ninguém; choro que esconde o pranto e mantém os olhos secos para enfrentar o julgamento da família e que choro de homem não tem vez. Pra isso, quando vem aquela dor no peito, fica tudo apertadinhozinhoassim; o nó na garganta é tal que se confunde com um engasgo; e os olhos ardem mais do que abri-los debaixo d'água (talvez porque já estejam encharcados), o que resta a fazer é agonizar sozinho, evitando por tudo abrir a boca, pois é por aí que desata o pranto. Então aquele sorriso antes bem ensaiado rasga uma convulsão penetrante, ainda não se distingue o riso do choro, os extremos se afastam cada vez mais, parece que os lábios não possuem a mesma extensão anterior, uma nesga de saliva escorre por um canto semi aberto, em mais uma contração surge a perfeita distinção de um homem aos prantos: os músculos faciais se contraem, fechando os olhos e arregalando as narinas; a respiração falha duas vezes; o corpo convulsiona-se em um ritmo sincopado; as mãos já não sabem se enlaçam-se, escondem o rosto ou a si próprias, gélidas; os pés dançam no ritmo daquela convulsão; e a cabeça pulsa como se fosse explodir; e explode, unindo todos os elementos desta dança lancinante em uma pista repleta de estranhos que por mais tentem lhe consolar, são só estranhos.
Mas fazer o que? Sempre vai ter alguém que diz que já passou por isso, e por tudo mais, e sabe mais do que você, sabe mais como resolver esse problemão, e que é tudo um grande exagero seu. Que seja! Agente se adapta, e que menos estranhos saibam do nosso pranto! Ensaiamos alguns sorrisos -diferentes para cada ocasião- e aprendemos que homem que chora, tem que se adaptar. Por exemplo, eu como homem destro, e com minha "destreza" me acompanhando a todo lugar, sei muito bem chorar apenas com o olho direito. Afinal de contas, em qualquer ocasião, você pode se esconder muito bem no seu lado forte, no caso o direito. Mas no meu caso, essa adaptação veio pela posição que ocupo no carro, geralmente no banco de passageiros. Chorando com o olho direito, nem o motorista, nem os outros acompanhantes percebem sua situação, lamentável para seu tio, sua tia, seus primos, seus pais. Lamentável...


Homem não chora!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Solitude


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Nasceu com cara de nada, sem jeito, sem graça, nem cor, credo, raça; menino ou menina, morena ou louraça; franzino, pateta, palhaça. O que você acha? Entrou na minha casa, fez bagunça, e no fim não fez nada. Achou o que estava cansado de procurar. Pegou pra ela, jogou pro alto, caiu no chão, virou geléia. Mexendo nas coisas antigas achou foi o eu mesmo que andava sumido, pegou pra ela, passou no pão, lambuzou-se, saciou-se; me encontrou. Foi nessa de achar e ser achado, que eu encontrei meu grande amor(sic).