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É aquele menino que leu as fantásticas viagens de Gulliver que agora lhes fala. Estou navegando em meu barco, cujos mastros e velas não exercem suas funções. Já que venta tão forte hoje em dia, acabei decolando no meio desse vendaval; os ventos bradavam nervosos trovões que terminaram por fim fazendo chover tudo de uma vez. Aquele toró que encharcou o convés foi o suficiente pra lavar todo o piso, que eu nunca tive tempo de limpar; sabe como é: em viagem solitária, o capitão é o marujo; trabalho dobrado sempre! E como foram os próximos dias de brisa leve, me dei ao luxo de observar o céu. E como ele anda claro, viu. Acho que nunca o vi assim, talvez minha pele já tenha retornado àquele marrom que tantas conhecem; até meus dentes parecem mais alvos pelo contraste, quando se exibem em um gentil sorriso. Meus olhos, estão mais abertos, e talvez por isso, eu tenha visto aquele grande rochedo no qual os ventos foram arremesar a embarcação e toda sua tripulação. O único sobrevivente e membro da tripulação não se recorda completamente do acontecido; mais parece com um pastiche antigo: uma praia, um céu azul e coqueiros; porém sempre me vem aquele gosto salgado de mar, aquela ardência da areia na cueca, a ressaca do oceano, e a pele ardendo, sem falar das necessidades fisiológicas mal contidas que excluem toda a beleza de ser um náufrago como eu fui.
Juro que acordei hoje como se tivesse vivido tudo isso novamente, só que dessa vez eu fui a pedra. O navio foi ela.
foto: Slinkachu
Um comentário:
Toda viagem precisa de um tempo pra manutenção.
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