segunda-feira, 28 de junho de 2010

Presente


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Lembro sempre daquela criança que gostava de presentear. Nada mais do que uma lembrança, ou um simples agrado, que ainda eram presentes, de valor inestimável. Lembra daquele relógio de areia que um dia ganhei? A areia que escorregava não delimitava intervalo nenhum; caia escrevendo uma palavra ou frase que marcava meu dia; virando o relógio a palavra mudava. O gênio inventivo da criança que desenvolveu um dispositivo movido à estática, que -não me pergunte como- criava frases e palavras apenas com o atrito da areia. Perdi muito tempo naquele brinquedo. Aquele presente se perdeu, nunca mais o encontrei, talvez ficou preso em alguma quina do meu passado. Quando encontrei esse presente preso em minha memória, veio o menino engastilhado junto, sempre com aquela cara de moleque, aquela eterna piada no olhar. Deixei escorregar aquela criança que tinha em mim.

Lembra daquele presente que um dia dividimos? É, aquele quadro que eu te dei! Lembra dele como lembra de mim: com um vidro na frente, minha silhueta embaçada pelo frio que faz lá fora. Deixa-o em um canto bem escondido do seu passado: quem sabe você o esquece lá, e me esquece junto. Deixa-me virado de costas pra que eu possa fazê-lo também. E um dia, você vai encontrar aquele presente, lembrança do passado apagado, com o vidro embaçado, e não vai lembrar que um dia nossas vidas se cruzaram.

Talvez você lembre daquela criança que gostava de presente, e não daquele homem que vivia no passado.

2 comentários:

Anônimo disse...

achei complexo, ja leu dom casmurro? lembrei historia do bentinho,qdo li esse texto!

Comentador Fiel disse...

Psicologia reversa?