sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Amor próprio

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Me pergunto por que corro. E não sei dizer se há um motivo para correr, por simples correr. Não é um esporte competitivo, não tenho planos de seguir carreira; não torço pra nenhum corredor, nem acompanho mundiais e torneios de atletismo, não sou fanático pelo esporte, mas sou dependente da corrida. Os fanáticos que respondem essa pergunta são sempre enfaticamente repetitivos; correm para emagrecer, metas de superação, correm sem explicação. Não tenho como discordar de todas as respostas, mesmo não sendo algum fanático.
Muitos não sabem que corro, não é meu cartão de visitas. André Romitelli, usa armações grossas, all-star e franja bagunçada. É quase como uma fantasia que visto para encarar uma ausência de realidade enquanto corredor. Para a cidade, não faz sentido tirar uma ou duas horas, três ou quatro vezes por semana para comer bananas, tomar água, calçar o tênis, short, regata e correr. Mas é necessário. A cabeça cheia de fumaça do dia a dia. A cabeça cheia de nuvem enquanto corro.
Fica clara a dependência quando pensamos no sentido fisiológico das coisas. É ótimo sentir a camisa colada ao torço depois de correr 10 quilômetros em um treino simples, sentir um arrepio que percorre a espinha e entorpece a cabeça, endorfina. É muito chato pensar que toda essa sensação prazerosa é dada por um hormônio. Isso tudo é amor próprio, e todo mundo tem um pouco disso. No fim, todos fazemos alguma coisa que nos torna seres melhores, agrada nosso organismo, nossa mente, e não precisa correr 10km. O fumante que fuma 1 cigarro a menos no dia, pensa como está se cuidando; o sedentário que troca o elevador pelas escadas -geralmente quando acaba a energia- está ciente que fez bem ao si mesmo; o baladeiro que foi dormir cedo, a patricinha que gastou menos no shopping, o vagabundo que levantou antes do almoço, o sujo que toma banho, o limpo que se suja, o arrumado que se bagunça, e o bagunçado que arruma, dormir em uma cama com o lençol esticado é fantástico, mas é bom também dormir em uma cama já quentinha; se atrasar 15 minutos pra faculdade é perdoável, ficar um pouco mais na cama - sozinho ou acompanhado-. Amar-se é conceder prazeres pontuais. Amor próprio se aprende sozinho.

Se você chegou até aqui me conte sobre alguma permissão que lhe fez bem. Juro que vou tentar também.

4 comentários:

Helena Tarozzo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=Es3Vsfzdr14&feature=related

Anônimo disse...

Que lindo você!
Acho que ter esses momentos de permissão, quase de merecimento, são tão mágicos! Nos sentimos amigos íntimos de nós mesmos!, por mais ridículo que isso possa soar..
Minhas permissões comigo mesma são sutis, mas necessariamente frequentes... tenho a impressão de que sem elas não vivo; são meu combustível. E vão desde me permitir a não prestar atenção naquela aula extremamente entediante para desenhar maluquices em meu caderno, ficar não cinco minutos, mas meia hora - quase - a mais na cama, naquele soninho apoteótico... (chego ao ponto de colocar o relógio pra despertar nos finais de semana somente para poder ter o gostinho do melhor sono que existe).. até pequenos passeios ao fim da tarde para respirar depois de mais um dia, refletir sobre tudo, tomando o tempo que preciso...É, são essas pequenas loucuras que me fazem quem sou, me alimentam e me dão vigor cotidiano. Adorei o post! Que bom que você também se permite esses pequenos momentos (:
Beijos

André R. disse...

Feliz Natal Julia... Tenha paciência

Anônimo disse...

Um feliz natal pra você também, André! E um novo ano inspirador... estou treinando a minha paciência!, já melhorei horrores (rs).
Beijos