segunda-feira, 28 de maio de 2012

o homem medíocre



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O homem medíocre acorda todo dia com a cabeça doendo e a boca seca; acorda assustado muitas vezes no meio da noite temendo a hora perder, volta a dormir, aliviado, os melhores minutos que antecedem o despertador; ele confia no maquinário, e mesmo assim ele falha – o homem falha – e perde a hora; a cabeça pesa no travesseiro, o homem maduro tem a cabeça muito pesada, a testa proeminente, as rugas precoces, sobrancelhas molduram olhos ensacados, inicialmente de propósito, com o passar dos anos, o púrpura não deixa suas pálpebras mesmo depois dos longos sonhos e das raras noites tranquilas; o homem imita seu pai desde pequeno, e sua postura tesa e responsável retumba em sua lombar flamejante, em seus joelhos inflamados, seus ouvidos zunindo e seus problemas renais; é o cansaço induzido no começo por pura vaidade, por mimese aos costumes paternos, depois enraizado e incurável, é como brincar de tristeza, começar a fumar, uma droga qualquer, é como qualquer um desses vícios contemporâneos que nos tomam de repente, coca-cola, fast-food, celular e facebook: “primeiro estranha-se, depois entranha-se”.
A vista embaçada não impede que ele tateie o criado mudo em busca de seus óculos, que muitas vezes não estão onde foram deixados; os sonhos ainda não dissiparam e tão logo se misturam e confundem-se entre si, logo são memórias incógnitas mesmo parecendo ter despertado de realidades tão intensas; naturalmente, retumba na cabeça a noite pesada e mal dormida, talvez o homem tenha acordado inúmeras vezes, seu sono interrompido por um susto, um barulho, a temperatura, um desejo, fome, incontinência ou medo; seus pés, inconscientemente, encontram o chão gelado de granito, e tateiam em busca dos chinelos que guiam o corpo, inerte, por essa manhã; o ecrã do despertador revela o ritmo de sua manhã: 6:32 = 15 minutos para toalete, 10 minutos de café da manhã, 10 minutos para vestir-se e o homem já está 3 minutos atrasado; 6:05 = 15 minutos para a cidade clarear; 15 minutos para toalete, 15 minutos de café da manhã; 10 minutos para vestir-se e 5 minutos para ligar a televisão e perder a hora, só por hábito.
Chá ou café, quem dita são as dores; a sinusite sempre prefere um café, mas quando a gastrite está fazendo muita questão de fazer parte da rotina, ela abre mão e aceita o Earl Grey com leite; dor de cotovelo, e dores sentimentais são acalentadas pela camomila que adocica o ban-chá; dor de cabeça, ansiedade e dor nos nervos geralmente são muito chegadas ao chá verde com limão e pamplemousse. Dor na alma é melhor voltar a dormir, ela não entende nada de chás.
Invariavelmente o sangue ferve e a água corre pelas veias do homem medíocre, que conhece um pouco de chás, mas tem a alma repleta de sono e sonhos.

7 comentários:

Anônimo disse...

ô homem medíocre..por que toda vez que abro seu blog começa a tocar uma música?

André R. disse...

não sei. Acho que seu computador está com algum problema.

Anônimo disse...

Por que o Hesse ilustra o homem medíocre?

Anônimo disse...

o que é pamplemousse? prguntas mediocres pra deixar o post mediocre.

André R. disse...

oras, o hesse sempre descreve homens medíocres. Enfim, achei a arte muito bonita. É de um cara chamado anatol knotek. Vale a pena conferir o tumblr dele: http://visual-poetry.tumblr.com/

André R. disse...

pamplemousse é grapefuit. Uma laranja grande com a polpa rosada e bem azeda. É um chá bem gostoso, da Casino, vale a dica.

André R. disse...

não precisa deixar o post medíocre. Ele já nasceu assim...