sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Polvilho


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Aquele gostinho salgado na boca, como água do mar. Gostinho mastigado de infância; de infância mitigada e quase esquecida. A boca fica pedindo um pouco mais, e os dentes trituram aquele pedaço de passado que derrete na língua; a anatomia da boca não foi feita pra guardar memórias... E eu quase esqueci que eu caminhava de volta pra algum lugar. Mas o saco na minha mão, e a saudade na boca, derretendo e indo em volta. Agora lembrei que era uma daquelas noites quentes dessa primavera doida e seca, quase claustrofóbica, que nem todo mundo sabe; e aquela brisa velha e deformada quase não balançava meus cabelos. Mas minha língua balançava remoendo um pouco do que sobrava daquela massa branca presa nos bréquetes do aparelho, duas coisas de crianças que são insustentáveis juntas. Enfim, foi nessa noite, eu me lembro bem, que eu vi que estava tudo bem, e aquela noite abrigava tantas pessoas naquele meio de vazio, que eu me senti sendo parte de uma unidade como não acontecia há muito tempo, vendo que tudo estava no lugar, estava tudo bem. E senti pela primeira vez que estava tudo em ordem.

4 comentários:

Helena Tarozzo disse...

meio milton hatoum, né? haha

Ana C. Almeida disse...

Que lindo André, tem um ar nostalgico e calmo, tranquilo...
me fez lembrar que do biscoito de polvilho doce que vende na praia de Niteroi...
saudades de vc!
beijos titi

thais disse...

Poutx, vi uma atualização sua no orkut com a frase " a anatomia da boca não foi feita pra guardar memórias" e confesso que fiquei muito curiosa pra saber da onde ela tinha surgido, foi então que entrei no seu blog e, nossa, incríveis seus textos. Você escreve muito bem e deixa muito claro a pessoa que você é e o que você pensa.
Adorei!

Beeijos
Thais Bontempi

Comentador Fiel disse...

Nada como o gosto de infância.