sábado, 2 de maio de 2009

Telexplosão



Parece que por mais não pensado que seja riscar uma vara de negrilho no chão, e por mais ingênua que seja essa atitude, as consequências mais funestas não tardarao. É logo que o chão se trinca no que os cães que antes ladravam, não ladravam por dor, tormenta a flor, eram cães que ladravam por não terem mais por que ladrar, deixam de ladrar, e aquela menina ingênua que antes roubava flores, passar a roubar corações e amores, e aquele padeiro ranzinza fazendo que o pão pisado tododia, enchesse a pança das mulheres e homens e crianças e joviais, deixou de se deitar com a vizinha, e fez que todos os homens de Portugal sentissem o peso daquele passado que estará sempre atrelado a eles. Quem saberia que o simples triscar de uma vara de negrilho no chão causaria tanto estardalhaço, e foi em torno disso que aquela manhã não foi a mesma: os cães, a menina ingênua, o padeiro, as mulheres e homens e crianças e joviais, e toda a vizinhança deixou de olhar Carla Arca com os mesmo olhos, e temerosos do pior, convidaram ela a se retirar do bairro antes que toda a imprensa tomasse parte do ocorrido, temendo a invasão que seria naquele vilarejo pacato e comum naquelas planícias tão verdes e plácidas de um horizonte tão reto e intangível, sem saber que sobre isso não tinham controle.
Agora o controle já não está na minha mão, aquele filme de uma trama pitoresca não me empolgou, parece mais uma miscelânea temática sem nenhuma finalidade aparente, agora via no tubo de raios catódicos mais do que uma mulher girando uma roleta de bingo lotada de menores bolas de golfes com números gravados girando também em suas próprias órbitas em colisões colossais que mudariam os rumos e os destinos daqueles que esperam anciosos pelo resultado daquela odisséia. Aquela bolona de raios cromados girando, repletada de bolinhas branquinhas e marcações negras, um gigante sorvete de creme e passas em uma taça esférica inatingível, se não fosse por aquele maldito dispositivo que a mulher de maiô aperta e rouba uma bolinha, se eu pudesse pegá-la ia de volta juntando-a novamente à homogeineidade daquela situação hipnotizante. Esse frenesi complacente logo cansou-me por tamanha rotina nos rituais apenas com uma finalidade, quebrar a homogeneidade daquela situação tão circular e eterna, não fosse as mulheres de maiôs.
Meus olhos ardem o tanto que 12 horas de respouso para orgãos vitais expostos a essas forças catódicas pode causar, e minha cabeça gira o mesmo tanto, de um lado da sala está a sombra da minha vara de negrilho apoiada sobre a cabeceira do sofá com as beiras arranhadas e carcomidas pelo tempo e pelos ratos companheiros de desserviço eterno, do outro angulo obtuso gira a minha roleta com meu dispositivo de exaustão minha vávula de escape, por onde tantas bolinhas já passei, onde minha mulher de maiô está sempre a sorrir, e num piscar de olhos, durmo.
Um barulho infernal vem da minha janela. É a vida na cidade.

Um comentário:

Comentador Fiel disse...

Me lembrou um texto que falava do óxido de dihidrogênio, e de como é interessante mudar os termos quando se quer dar uma outra visão de algo cotidiano.