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O homem medíocre acorda todo dia com a cabeça doendo e
a boca seca; acorda assustado muitas vezes no meio da noite temendo a hora
perder, volta a dormir, aliviado, os melhores minutos que antecedem o
despertador; ele confia no maquinário, e mesmo assim ele falha – o homem falha
– e perde a hora; a cabeça pesa no travesseiro, o homem maduro tem a cabeça
muito pesada, a testa proeminente, as rugas precoces, sobrancelhas molduram
olhos ensacados, inicialmente de propósito, com o passar dos anos, o púrpura não
deixa suas pálpebras mesmo depois dos longos sonhos e das raras noites
tranquilas; o homem imita seu pai desde pequeno, e sua postura tesa e
responsável retumba em sua lombar flamejante, em seus joelhos inflamados, seus
ouvidos zunindo e seus problemas renais; é o cansaço induzido no começo por pura
vaidade, por mimese aos costumes paternos, depois enraizado e incurável, é como
brincar de tristeza, começar a fumar, uma droga qualquer, é como qualquer um
desses vícios contemporâneos que nos tomam de repente, coca-cola, fast-food,
celular e facebook: “primeiro estranha-se, depois entranha-se”.
A vista embaçada não impede que ele tateie o criado
mudo em busca de seus óculos, que muitas vezes não estão onde foram deixados;
os sonhos ainda não dissiparam e tão logo se misturam e confundem-se entre si,
logo são memórias incógnitas mesmo parecendo ter despertado de realidades tão
intensas; naturalmente, retumba na cabeça a noite pesada e mal dormida, talvez
o homem tenha acordado inúmeras vezes, seu sono interrompido por um susto, um
barulho, a temperatura, um desejo, fome, incontinência ou medo; seus pés,
inconscientemente, encontram o chão gelado de granito, e tateiam em busca dos
chinelos que guiam o corpo, inerte, por essa manhã; o ecrã do despertador
revela o ritmo de sua manhã: 6:32 = 15 minutos para toalete, 10 minutos de café
da manhã, 10 minutos para vestir-se e o homem já está 3 minutos atrasado; 6:05
= 15 minutos para a cidade clarear; 15 minutos para toalete, 15 minutos de café
da manhã; 10 minutos para vestir-se e 5 minutos para ligar a televisão e perder
a hora, só por hábito.
Chá ou café, quem dita são as dores; a sinusite sempre
prefere um café, mas quando a gastrite está fazendo muita questão de fazer
parte da rotina, ela abre mão e aceita o Earl Grey com leite; dor de cotovelo,
e dores sentimentais são acalentadas pela camomila que adocica o ban-chá; dor
de cabeça, ansiedade e dor nos nervos geralmente são muito chegadas ao chá
verde com limão e pamplemousse. Dor na alma é melhor voltar a dormir, ela não entende nada de chás.
Invariavelmente o sangue ferve e a água corre pelas veias do homem medíocre, que conhece um pouco de chás, mas tem a alma repleta de sono e sonhos.
Invariavelmente o sangue ferve e a água corre pelas veias do homem medíocre, que conhece um pouco de chás, mas tem a alma repleta de sono e sonhos.
7 comentários:
ô homem medíocre..por que toda vez que abro seu blog começa a tocar uma música?
não sei. Acho que seu computador está com algum problema.
Por que o Hesse ilustra o homem medíocre?
o que é pamplemousse? prguntas mediocres pra deixar o post mediocre.
oras, o hesse sempre descreve homens medíocres. Enfim, achei a arte muito bonita. É de um cara chamado anatol knotek. Vale a pena conferir o tumblr dele: http://visual-poetry.tumblr.com/
pamplemousse é grapefuit. Uma laranja grande com a polpa rosada e bem azeda. É um chá bem gostoso, da Casino, vale a dica.
não precisa deixar o post medíocre. Ele já nasceu assim...
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