segunda-feira, 19 de julho de 2010

Descarga de pensamento

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A filosofia contemporânea nasceu no banheiro. Todo o pensamento de nossa geração pode ser sintetizado pelos pensamentos e divagações na porcelana. Poderia se tivesse sido anotado, mas nunca tem lápis ou caneta no banheiro, então toda essa genialidade pitoresca vai invariavelmente para o esgoto; e todo o pensamento filosófico de hoje fica restrito às produções muito mais discretas que só terão função dentro de, pelo menos, 20 anos, quando forem estudadas por colegiais ou pré-vestibulandos (caso esse método de triagem ainda exista). Enfim, o filósofo do séculos 21 já está de calças arriadas, pronto para receber chumbo grosso.

Em seu trono, o pensador é rei de toda a verdade: preenche a volumetria do território facilmente com suas verdades indefectíveis; o ar fica impregnado com a magnitude do seu pensamento; e todos os problemas parecem ter uma solução. A simplicidade do raciocínio lógico que condiciona a toda a iluminação do raciocínio. Além disso, a posição do “homem entronado” proporciona a flexão óbvia e eficaz da cabeça pesando sobre o punho: “O Pensador”.

Tudo isso fica mais fácil sem aquela pressão do almoço mal digerido. A unidade de filosofia contemporânea, com seus azulejos bem limpos, a pia de pedra brilhante, o box com sua incólume transparência, abriga o filósofo, se livrando dos restos pútridos das filosofias digeridas. O organismo é aproveitador, fica só com o que interessa: o resto que se dane. O filósofo, dono de tal organismo, não poderia ser diferente: engole seus antepassados, indiscriminadamente; mastiga suas filosofias, que, muitas vezes, já estão mastigadas; digere tudo aquilo, despejando sobre aquilo suas observações de pH inconveniente. Bom, agora os filósofos divergem: alguns optam pelo refluxo, ruminando toda aquela confusão, permanecendo em um lugar comum; ou despejam logo o quimo, com todas suas partes descartáveis. O pensador contemporâneo acaba sempre defecando (n)os costumes dessa época.

Afinal de contas, aonde você acha que estou enquanto penso nisso? Muita filosofia é desperdiçada aqui unicamente pelo fato de não ser comum ter lápis ou canetas aqui! É uma vergonha isso, já que papel tem de sobra. Bom, se o papel acabou não me culpe, mas vai ser um problemão. Só que o pensamento no banheiro é tão efêmero quanto um sonho, uma música composta no chuveiro, ou uma descarga. Eu sei que você está cagando e andando pra isso, mas eu acho um grande desperdício.

5 comentários:

Helena Tarozzo disse...

Eu achei engraçado.. Rodin ficaria orgulhoso

André R. disse...

é, eu tento me convencer que sou engraçado. Que tenho um senso de humor. Que tenho um senso de alguma coisa. Isso pelo menos desperta curiosidade nas pessoas. Vai que eu me torno alguém curioso? Drama king!

Gabriel Romitelli disse...

Ficou uma MERDA! Vai cagar, André

Unknown disse...

uma genialidade de "merda"!

Comentador Fiel disse...

Não sei o que achei melhor, o texto ou o comentário do Gabriel.